1.
TEXTO PARA AS QUESTÕES 9 E 10 Você pode não acreditar Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os leiteiros deixavam as garrafinhas de leite do lado de fora das casas, seja ao pé da porta, seja na janela. A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de manhãzinha, passava pelas casas e não ocorria que alguém pudesse roubar aquilo. Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os padeiros deixavam o pão na soleira da porta ou na janela que dava para a rua. A gente passava e via aquilo como uma coisa normal. Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que você saía à noite para namorar e voltava andando pelas ruas da cidade, caminhando displicentemente, sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para trás, sem temer as sombras. Você pode não acreditar: houve um tempo em que as pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio da tarde ou à noite, contavam casos, tomavam café, falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de bonde às suas casas. Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o namorado primeiro ficava andando com a moça numa rua perto da casa dela, depois passava a namorar no portão, depois tinha ingresso na sala da família.Era sinal de que já estava praticamente noivo e seguro. Houve um tempo em que havia tempo. Houve um tempo. SANT’ANNA, A. R. Estado de Minas. 5 maio 2013 (fragmento). No texto, a repetição da expressão “Você pode não acreditar” serve para
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TEXTO PARA AS QUESTÕES 6, 7 E 8. Negócio de Menino Tem dez anos, é filho de um amigo, e nos encontramos na praia: – Papai me disse que o senhor tem muito passarinho… – Só tenho três. – Tem coleira? – Tenho uma coleirinha. – Virado? – Virado. – Muito velho? – Virado há um ano. – Canta? – Uma beleza. – Manso? – Canta no dedo. – O senhor vende? – Vendo. – Quanto? – Dez contos. Pausa. Depois volta: – Só tem coleira? – Tenho um melro e um curió. – É melro mesmo ou é vira? – É quase do tamanho de uma graúna. – Deixa coçar a cabeça? – Claro. Come na mão… – E o curió? – Por quanto o senhor vende? – Dez contos. Pausa. – Deixa mais barato… – Para você, seis contos. – Com a gaiola? – Sem a gaiola. Pausa. – E o melro? – O melro eu não vendo. – Como se chama? – Brigitte. – Uai, é fêmea? – Não. Foi a empregada que botou o nome. Quando ela fala com ele, ele se arrepia todo, fica todo despenteado, então ela diz que é Brigitte. Pausa. – O coleira o senhor também deixa por seis contos? – Deixo por oito contos. – Com a gaiola? – Sem a gaiola. Longa pausa. Hesitação. A irmãzinha o chama de dentro d’água. E, antes de sair correndo, propõe, sem me encarar: – O senhor não me dá um passarinho de presente, não? Rubem Braga. A forma como os personagens interagem contribui para a construção de um texto que se caracteriza por
3.
A principal função das pausas sinalizadas no texto é
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"Bruno sentiu um impulso de abraçar Shmuel, apenas para mostrar-lhe o quanto gostava dele e como fora bom conversar com ele durante o ano que passara ali. Shmuel também sentiu um impulso de abraçar Bruno, apenas para agradecer-lhe pelas incontáveis gentilezas, e pela comida que trazia de presente, e pelo fato de que iria ajudá-lo a procurar pelo pai. No entanto, nenhum deles abraçou o outro; em vez disso, começaram a caminhada desde a cerca até o campo, uma caminhada que Shmuel fizera quase todos os dias já há quase um ano, quando escapava dos olhares dos soldados e conseguia chegar até a única parte de Haja-Vista que parecia não estar sob vigilância constante, um lugar no qual ele tivera a sorte de encontrar um amigo como Bruno. [...]". BOYNE, John. O menino do pijama listrado. Tradução de Augusto Pacheco Calil. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. (fragmento). No trecho, a expressão “No entanto” produz efeito de
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"Um dia, no verão passado, meu amigo Rahim Khan me ligou do Paquistão. Pediu que eu fosse vê-lo. Parado ali na cozinha, com o fone no ouvido, sabia muito bem que não era só Rahim Khan que estava do outro lado daquela linha. Era o meu passado de pecados não expiados. Depois que desliguei, fui passear pelo Lago Spreckels, na orla norte do parque da Golden Gate. O sol do início da tarde cintilava na água onde navegavam dezenas de barquinhos em miniatura, impulsionados por um ventinho ligeiro. Olhei então para cima e vi um par de pipas vermelhas planando no ar, com rabiolas compridas e azuis. Dançavam lá no alto, bem acima das árvores da ponta oeste do parque, por sobre os moinhos, voando lado a lado como um par de olhos fitando San Francisco, a cidade que eu agora chamava de lar.". HOSSEINI, Khaled. O caçador de pipas. Tradução de Maria Helena Rouanet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. (fragmento). No trecho, a ligação recebida tem como principal efeito
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A estratégia utilizada pele autor ao encerrar o texto com o trecho “Houve um tempo em que havia tempo. Houve um tempo.” tem como principal efeito
7.
Com base na pergunta final “– O senhor não me dá um passarinho de presente, não?”, é possível entender que o menino
8.
"Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala. Arrastaram-se para lá, devagar, sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão. [...]" RAMOS, Graciliano. Vidas secas.120ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2013. (fragmento). O trecho trata principalmente:
9.
"Uma coisa voltava com impiedosa insistência e regularidade ao espírito de Espinosa: a convicção de que episódios como o do rapaz era o que quebrava a monotonia de sua atividade de delegado, cada vez mais tomada por tarefas burocráticas. A imagem do policial como investigador de crimes e captor de bandidos correspondia cada vez menos ao cotidiano da delegacia de polícia. Num país marcado por tamanha desigualdade, a função da polícia não pode ser outra senão impedir o terceiro mundo de invadir o primeiro. Espinosa sabia disso; alguns poucos como ele também sabiam; os demais eram tão marginais quanto os que eles prendiam, agrediam e achacavam. Nesse panorama, a história de um homem ameaçado de se tornar assassino pela predição de um adivinho era sem dúvida diferente. [...]". GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Vento sudoeste. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. (fragmento). No trecho, a expressão destacada contribui para a organização do texto porque
10.
"Tudo, afinal, tinha passado, menos a lembrança daquele beijo. Menos a lembrança de Cristiano. Pensou em telefonar para ele mas, se telefonasse, o que iria dizer? Na certa acabaria nervosa, fazendo alguma de suas gracinhas, e estragaria tudo. Não, tudo não. Não havia o que pudesse estragar o que tinha começado com aquele beijo. Aquele beijo fora um compromisso. Não por ter sido um beijo. Mas por ter sido um beijo como aquele. Isabel tinha pressa. É claro que tinha pressa. Era preciso reencontrar Cristiano para não o largar nunca mais. Mas era domingo, dia-de-sair-com-papai. Esta era outra razão para esperar mais um dia, o dia que separava a descoberta do seu sonho e o reinício das aulas. O início de uma nova vida. Uma vida com Cristiano. [...]". BANDEIRA, Pedro. A marca de uma lágrima. São Paulo: Moderna, 1986. (fragmento). De acordo com o trecho, pode-se deduzir que
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